domingo, 15 de fevereiro de 2009

Cadeira voadora

A transição da máquina de escrever, aquelas manuais totalmente mecânicas para as elétricas já foi um sufoco para nós jornalistas da velha guarda. Imaginem, então, a transição das elétricas para as marmitas (avós das laptops) e, depois, das pesadíssimas lap tops para as de hoje.
Bem, o que eu quero dizer é o seguinte: no tempo das typewriters, jornalistas nervosinhos estavam bem mal acostumados. Sempre que tinham ataques, a vitima quase sempre era a primeira Remington ou Olivetti que viam pela frente. Socavam as coitadas na mesa, na parede. Às vezes, as pobrezinhas iam até ao chão e, recolocadas no lugar, continuavam toc toc toc toc, como se nenhuma agressão houvessem sofrido.
Defeitos nas máquinas podiam ser sanados rapidamente, esferas e fitas tinham aos montes pelas gavetas de todos e sempre alguém para amarrar alguma alça (a ferramenta de dar espaço) meio trôpega. Oh! Nossas queridas amigas! Eu tinha uma Olivetti todinha verde, num estojo também verde, comprada na década de 70, herança de meu pai, mas deram sumiço nela. Que saudades!
Depois desse enorme nariz de cera, vamos ao que interessa.
Era, acho, algum ano da primeira metade da década de 90. Eu, separada e ainda sem coragem de dirigir, morava na QI 27, lago Sul. A Bebel tinha uns nove anos e estudava no Marista e a tia dela, a Lígia, ao buscar a filha, uma ano mais velha, Lilinha, também pegava a Bebel e a deixava no Ministério da Fazenda. Então a pobrezinha ficava ali comigo das seis e meia da tarde até oito, nove, dez horas da noite, conforme a crise do dia, até pudéssemos ir de carona para casa. Pegávamos carona com Ivanir Bortot, hoje Chefe de Redação da Agência Brasil, naquele tempo na Gazeta Mercantil, ou a mulher dele, também jornalista, hoje na Assessoria de iMprensa do Ministério da Cultura. Também a Adriana Fernandes, hoje no Estadão, nos dava carona.

Bem, aquele dia havia sido particularmente nervoso e os postos do Estadão no Ministério da Fazenda já estavam computadorizados. O nosso querido Jocimar Nastari, hoje na Assessoria de Imprensa do Ministério da Fazenda , não conseguia transmitir a maldita matéria. Transmitia a ela não chegava. Um inferno!Primeiro ele falou uns palavrões. Depois pegou a laptop e já ia amassá-la contra a mesa, quando se lembrou que o equipamento não era assim uma Olivetti, nem Uma Remington e...
Então pegou a primeira cadeira que viu, dessas enormes de rodinhas e a arremessou contra a porta justo na hora que... a Bebel chegava. Sorte dele que era uma gente pequenininha que vinha entrando.
O silêncio da sala de imprensa foi de velório. A cadeira vooou por sobre a cabeça da Bebel para se esborrachar numa escadinha de ferro que havia em frente. A Bebel ali branca, parada. Eu não disse nada, peguei minha filha pela mão e fui esperar a carona na portaria do Ministério.
Noutro dia o Jocimar veio pedir desculpas. Virei as costas e segurei minhas mãos fechadas com força porque a minha vontade era estapeá-lo, esmurrá-lo, jogar um armário gigante em cima dele. Somos grandes amigos, mas até hoje quando me lembro... Deixa pra lá!

Clara Favilla
20 de novembro de 2008

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