domingo, 15 de fevereiro de 2009

Existirmos a que será que se destina...

Depois de ler o meu post abaixo, Bebel, minha filha comentou: " Então, por que viver?"

Imediatamente respondi para mim mesma. Não se vive por um que ou por um quem. Vive-se! Se precisássemos de um por que ou de um por quem , como sobreviveríamos as nossas tragédias pessoais, as nossas perdas... aos amores que se foram, aos filhos pequenos que não existem mais... Vivemos até que deixamos de viver. Simples assim. Como o vento venta até não ser mais vento. E a folha é até mais não ser. Como a poça d'água existe até se evaporar. Vivemos para que haja vida. Isso deveria nos bastar porque já é grande demais, misterioso demais.

Lembrei-me, então, da música Cajuína de Caetano Veloso, "Existirmos a que será que se destina?".
Sempre achei essa música linda, de uma melancolia infinita e intrigante. Fiz uma pesquisa no Google e não é que achei na "Rádio Moreno", em O Globo, Caetano falando sobre a música?!

Caetano conta que ao receber a notícia do suicídio de Torquato Neto, estava com Chico Buarque, em Salvador, para um show memorável que virou um disco famoso. Diz que ficou mal, mas não chorou.

"
Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental. Quando, anos depois, encontrei Dr. Eli (pai de Torquato), que sempre foi uma pessoa adoráve, essa dureza
amarga se desfez. E eu chorei durante horas, sem parar. Dr. Eli me consolava, carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava
hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia quase nada. Tirou uma rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente. Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi Cajuína.


"Existirmos a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina."

Torquato Neto - nasceu em Teresina, Piauí, em 09 de Novembro de 1944. Filho de promotor público e professora primária, estudou no mesmo colégio que Gilberto Gil, em Salvador, tornando-se amigo do compositor e conhecendo também os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Em 1962 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou um curso de Jornalismo. Sem o diploma, começou a exercer a profissão em diversos jornais cariocas.

Foi um dos mentores do movimento tropicalista, participou da famosa capa do LP Tropicália ou Panis et Circenses (sentado ao lado de Gal Costa) - nesse disco estão incluídas duas de suas composições: Mamãe, Coragem e Geléia Geral (considerada o verdadeiro manifesto tropicalista).Morreu em 10 de novembro de 1972 , um dia depois de ter completado 28 anos.

Clara Favilla
Quarta-feira, 05 de novembro de 2008

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