domingo, 15 de fevereiro de 2009

Pra não dizer que não falei das flores e dos espinhos de hoje...

Barack Obama é o presidente eleito dos Estados Unidos. Toma possa em 20 de janeiro de 2009.
A expectativa é que faça a retirada dos soldados americanos do Iraque e, que com a força dos democratas no Congresso, aprove um pacote de sustentação da economia, se é que já não esteja aprovado até lá. Também espera-se de Obama uma maior regulação do sistema financeiro.

Desiludida do jeito que ando sobre as coisas desse mundo (estou muito confortável no exercício dessa desilusão, acreditem!), francamente, não senti a menor vontade comemorar o resultados das eleições americanas.

Gostaria muito, muito mesmo, de uma reforma política que tornasse o voto, no Brasil, voluntário. Presto atenção no noticiário por dever de ofício. Se houvesse já abandonado as lides jornalísticas estaria sim lendo e muito, escrevendo e muito, mas não sobre assuntos do dia-a-dia, prioridades e certezas que mudam como nuvens, ao sabor do vento. Quando me perguntam por que eu tenho este blog eu respondo, para espanto geral, que é pra não morrer logo.

Quando eu nasci em janeiro de 1950, fazia cinco anos que a II Grande Guerra terminara com a rendição de italianos e alemães. O nazismo acabou? O facismo acabou?
As guerras acabaram? O palco da vida é o mesmo e os personagens só mudam de roupa e de tecnologia...

Hoje, nesse processo de traballho arqueológico sobre quem fui um dia, encontrei num velho caderno, o texto que transcrevo abaixo. Vou digitá- lo exatamente tal como foi escrito:

Sentados frente a frente,
representantes dimplomáticos de dois países
discutem.
Primeiro, uma discussão calorosa.Depois, apenas cordial.
Por fim, levantam-se.
Apertos de mãos, sorrisos.
(Que tal um drink?)
Nada mais propício para a ocasião:
a Paz está feita!

O mundo inteiro logo estará ciente do fato.
A guerra que ninguém entendia terminou.
Pela imprensa, ambas as partes
reclamarão para si a vitória,
farão propaganda de sua máquina de guerra
e estratégia militar.
As agressões, prejuízos, mortes
tudo isso e mais o resto serão esquecidos.
Haverá banquetes,
discursos evocando a confraternização entre os povos.
Comícios em praça pública
e soldados serão recebidos como heróis nacionais.

A Paz está feita.
Afinal, a hostilidade entre os dois países
teria de ter um fim.
O páis invasor suspendeu os bombardeios
e retirará as tropas do território ocupado.
mas gradativamente, é claro!
Os guerrilheiros novamente em casa
para as mulheres,
as crianças e o trabalho.
A Força regular recolher-se-á aos quartéis.
Breve, prometem, a reconstrução do país.
O tráfego de novo dá vida às cidades .
Os buracos subterrâneos, as trincheiras, tapados.
Aos mortos, civis e militares,
um belíssimo monumento erguido.
O tempo
encarregado de cicatrizar feridas
do corpo e da alma e...
Tudo como antes
os erros, os acertos,
as alegrias, as tristezas, a miséria, a fome.
Tudo como antes.
Nada mudou.
A Paz, uma palavra bonita apenas
cercada de brindes
sorrisos
e flashes de fotógrafos cansados.

Texto escrito em 1967.
Eu tinha 17 anos.

Clara Favilla
Quarta-feira,05/11/2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário