sábado, 14 de fevereiro de 2009

Duelo sobre duas rodas


Perdão o atraso, mas é que eu tenho que manter minha fama de folgada (ver post anterior). Deixar mamãe ir fazendo tudo, começar e só aproveitar depois. Pensei em inaugurar minha participação saindo em minha defesa, mas seria em vão. Ao menos ciclisticamente falando sou uma folgada mesmo.

Acho que deveria começar a escolher meus amigos pela bicicleta. Chegando ao conservatório, passaria pelo estacionamento e , com olhar crítico de avaliadora do Inmetro, daria notas à estrutura geral, grau de conservação e uso, suspensão e amortecimento, qualidade e conforto da garupa.

Antes de me mudar para a Holanda, cultivei a doce ilusão de que iria de bicicleta para todos os cantos, livre das despesas com transporte, horários e de quebra ainda faria um pouco de exercício. O máximo que fiz até agora foi ir e voltar do supermercado (2 km apenas ao todo). Ao conservatório fui algumas vezes (7 km, quase uma asa do plano piloto).

Mal sabia eu que a Holanda é sim um passo além rumo ao norte do mundo e que eu não estaria disposta a enfrentar o vento implacável. Meu pai, quando eu era pequena, não pedalava pra cima e pra baixo comigo numa cesta. Aos 3 anos, não ganhei minha primeira bicicleta, fizesse chuva ou sol (quase sempre chuva), não ia brincar lá fora com ela. Eu não consigo falar ao celular e levar uma pizza na outra mão enquanto pedalo.

Por mais plano que seja o terreno e, sim, é monotonamente plano, chega-se cansado aos lugares. O conceito de ir fazendo muito esforço para chegar cansado a um lugar onde trabalho e esforço me aguardam, ainda não passou pela aprovação do meu sistema. Fazer o quê? Já se cansaram das minhas desculpas sem fim?

Admito que tenho muitos amigos vindos de países sem tradição ciclística que se adaptaram muito bem a essa vida. Ainda me resta o sentimento de culpa. Ele vem forte, mas forte mesmo quando vejo uma velhinha com a sua gazele (marca de bicicleta muito comum). Velhinha, velhinha mesmo. Não uma senhora em boa forma. Aliás, senhoras em boa e má forma é o que não falta sobre duas rodas.

Uma das coisas mais legais é estar na rua por volta das oito da manhã e ver o harmonioso trânsito de bicicletas. São pessoas de todos os tipos. Pais e filhos em bicicletas conjuntas ou separados, apoiando-se. Mães com bebês em cadeirinhas.

Um pai bem disposto deixa qualquer tram (bonde) para trás. Chega a ser um pouco irritante. Já me peguei apostando corrida (sem qualquer poder de ação) com um homem e uma bakfiets (bicicleta com uma cesta grande na frente onde em geral levam-se os futuros ciclistas folgados) com dois menininhos.

Para o ano, meu desafio vai ser pedalar sempre que não fizer mau tempo. Aguardemos o dia da minha redenção.
http://www.gazelle.nl/ (para conhecer um pouco do estilo ciclístico holandês)
Antonia (oboísta chilena) fotografada por mim direto da garupa de outra bicileta.

Isabel Favilla

Quarta-feira, 21 de maio de 2008

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