Diário do passado 2. Mais uma quaresma inexistente, mais uma páscoa sem bacalhau.

Diálogo entre duas amigas jovens de hoje em dia (pela internet, claro):

- Vamos fazer um almoço de Páscoa? Reunir todo mundo aqui em casa no domingo, só os amigos mais chegados?
- Ai, que ótimo! Vamos sim.
- Problema é que não levo jeito pra cozinha mesmo, não me arrisco a cozinhar pra mais gente. Você quer almoço ou lanchinho?
- Ah, almoço, né? Mas nada complicado, não. Um arroz, uma salada, um peixe.
- Aliás, o que se come na Páscoa?
- Ué, acho que peixe, mas agora que você perguntou....
- Ai, não! Muito difícil! Lanchinho, vai..
- Que difícil, que! Só colocar no forno e assar com umas batatas temperadinhas.
- Tem certeza que é peixe que come na páscoa?
- Carne é que não é, mas vou perguntar pra minha mãe.
- Isso, faz isso que eu também pergunto pra minha.

Diálogo entre mãe e filha, também pela internet:

- Mãe, o que se come na Páscoa?
- Aqui, tradicionalmente, bacalhau. Por quê?
- Ai, bacalhau... não... muito difícil.
- Não precisa ser bacalhau, só não pode ser carne vermelha.
- Ah, ta. Ai, mãe. Tô sem dinheiro essa semana, não trabalhei porque amanhã é Páscoa.
- Minha filha, Páscoa só no domingo, amanhã é sexta-feira santa.
- Ai, mãe, sei disso. Tô falando no geral, feriado de Páscoa!

Minha mãe vive me se gabando de que com sete anos já cozinhava pra família. Eu, pelo visto, vou ter que arranjar algo pra me gabar pra minha filha caso eu venha a tê-la.
Quando minha mãe era criança, existia um período chamado quaresma. Hoje, teoricamente ainda existe, mas se não fosse essa gripe que durou quase a quaresma inteira, eu nem teria me dado conta dela. Acho que em vinte anos, ninguém mais vai ter saco pra fazer bacalhau.

Isabel Favilla

Domingo, 01 de junho de 2008